A banda de música, por Misael Nóbrega de Sousa

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Jornalista e escritor, Misael Nóbrega Sousa.

A BANDA DE MUSICA


Todo amanhecer é Divino. Porém, aquele em especial, encheu-me de esperança. Era outubro de 2003. Ao abrir a janela de minh’alma, fui agraciado com uma formosura análoga. A banda… Passava em minha rua, “cantando coisas de amor”.

Por instantes, lembrei dos soldadinhos da minha infância, à rua capitão Ló… – Será que fugiram da caixa de sapatos, onde repousavam eternos, para marchar em pleno arrebol?

A cadência melódica era ditada pelo maestro, que destacado dos demais, abanava a sua batuta para extrair os mais perfeitos acordes. Logo atrás, carregando os instrumentos de fabricar sonhos, vinham os músicos… – Enfileirados, de forma igual. A pancada mais forte no bombo marcava os passos (direita, esquerda; direita, esquerda).

A cidade que me viu nascer tem uma filarmônica, testemunha de muitas narrativas e guardiã de nossos segredos mais íntimos – A qual batizaram de 26 de julho. Quantas histórias não existem ali, passadas de gerações em gerações.

Vejo rostos jovens, como uma poesia que se renova, a manejar trompas e trombones – E procurei por: Afonso “bacalhau”, Assis “casca de bala”, Valdemar “do pandeiro”, Edson “maestro” Morais, Hermes Brandão, “Valdim” de Misael – Que viveram e morreram na banda de música… E hoje são personagens memoráveis desse folclórico conjunto de partituras.

Devemos admitir: o novo sempre vem.

Em cada dobrado, a devoção à uma cidade… – Por respeito e admiração, recíprocos. Quem dera, este concerto acontecesse, todas às vezes, em que pensamos em morrer.

Ao ouvir a celebração da existência, não teríamos razões para desistir… Agradeci, interiormente, àqueles destemidos encantadores de auroras, pois meu coração necessitava daquele regozijo. Lá, rá, lá… Solfejei.

Revigorado, os vi dobrarem a esquina, em busca de outra alma infausta. – Que venha novembro!

Misael Nóbrega de Sousa