Anjo da Morte, por Misael Nóbrega de Sousa

ANJO DA MORTE


Tua aparição sempre será emblemática: um anjo e guardião da porta oriental. A perfeição é direito teu. Vens de um tempo onipresente… O tempo de Deus. Dimensão. Espaço. Existir. Ações. Reações. Frações. Augusto ser que me acorre às madrugadas de todos os janeiros. Por que testemunhas o meu sono aflito? És mesmo um mensageiro do céu? Confusão que me agoniza… Sou uma aberração do mundo. Não há como endireitar o meu andar coxo. Se assim o fizesse, vagaria por entre as virgens Marias que conheci. E repetiria todos os pecados. A vaidade é a chaga incurável de meus dias. E nem se essa luz banhar o meu corpo sofrível… – Terei salvação. Ainda preciso desta vida; e a vida sorri na contramão. Senão pelos meus amores, os medos é que seriam vencedores. E as lágrimas se apoucaram. Embruteci. Adoeci. Mas, persisti. O que há agora? Tu te lembras? Folhas secas descolorindo caminhos. Janelas emoldurando os destinos. Painéis. Cenários. Retratos. Traços. Lousa. Cousa alguma. Se é chegada a hora… Conceda-me o desejo de viver por mais um dia, sem a ignorância dos comuns ou a arrogância dos intelectuais.– E para ter a certeza de que mereci viver, sofrer no intervalo de cada fôlego e para que essa angústia seja a última testemunha de mim.

Jornalista e escritor, Misael Nóbrega Sousa.