“Enquanto somos a morte não existe…” Por Misael Nóbrega de Sousa

Jornalista e escritor, Misael Nóbrega Sousa.

“ENQUANTO SOMOS A MORTE NÃO EXISTE…”

Ontem, eu caí no banheiro e bati a cabeça. Inicialmente, pensei que tivesse sido um desmaio. Mas, não. Eu havia escorregado na lama do meu próprio corpo. Era 5h. Suamos os pesadelos na madrugada ulterior ao deitar. E pelo ralo descem as impressões do dia, não sem antes me derrubar. “Acordar para a vida” com um baque é bem literal. A dor na cabeça no local do inchaço dizia que eu ainda podia morrer daquilo. Ridículo: uma queda no banheiro de casa antes de sair para o trabalho. Eu estava em observação de mim mesmo. Vigiando os sintomas e controlando a ansiedade. Será que havia acontecido alguma coisa com o meu cérebro? Sei lá… O lobo frontal teria trocado de lugar com o lobo temporal? Neura, minha. Como podia? As primeiras horas são determinantes para o agravamento da crise. E sempre achamos que não será aquele o dia (era a hipófise liberando endorfina). Mas, é verdade que “enquanto somos a morte não existe”. Os nossos passos são sempre em círculo, já notaram? Damos voltas em torno de nós mesmos, como tudo enfim. Então, por que a falsa impressão de que estamos indo para algum lugar? O segredo de nossa caminhada é viver uma vida devagar. Correr pela sobrevivência é mais primitivo que cerebral. Ops! Esse discernimento é prova de que o hipocampo, onde ficam o aprendizado e a memória, também, não foi afetado. Do trabalho voltarei pra casa e “só sairei morto”. Afinal, nunca estamos indo mesmo a nenhum lugar… Ainda mais com essa dor de cabeça, embora de mais reflexo que sensorial.

Misael Nóbrega de Sousa