Epitáfio, por Misael Nóbrega de Sousa

Jornalista e escritor, Misael Nóbrega Sousa.

A morte deveria ser a mais solene de todas as celebrações que conhecemos. O corpo depositado numa vala comum e coberto com o próprio chão “para que a bicharada roa o coração depois da morte”… – É um abandono! Ele tem que ser ungido “para que volte ao pó”; apenas o silêncio não basta. É em vida que devemos confessar algum remorso; na cova, é onde se deve deixar todas as culpas… E acender uma vela. Devemos ainda visitar o defunto, diuturnamente, depois de sepultado. Assim, aprendemos sobre compaixão e conceberemos o nosso próprio funeral. E, que permaneçamos de joelhos, até que a dor nos avise o quanto somos humanos. Como falar de honradez se não nos diminuirmos? Os elementos de veneração também têm que ser mais bem elaborados: consternação, pranto… Não representam grande coisa diante deste derradeiro ato que nos remete à eternidade. A cruz, fincada, é a penitência dos dias terrenos; a fotografia, à lápide, a lembrança… – Feito “imagem e semelhança”; a oração, o conforto para que os vivos valorizem a vida; as grinaldas, para que nos lembremos de quando meninos; o luto deve ser eterno no coração do homem; e a maior resignação reservada à mãe. Quer seja formal, material ou moral, a morte não apaga os erros passados, mas redime a todos dos pecados porque nos liberta. Por fim, ao coveiro – E a mais ninguém, deve ser legitimado o direito de plantar uma flor.

Misael Nóbrega de Sousa