Obituário; por Misael Nóbrega de Sousa

OBITUÁRIO

Quem são essas pessoas, diagramadas neste obituário, e que por meio dele soube que morreram? Há uma secção inteira de rostos inanimados. Ilustres desconhecidos que perderam a vida e que faço questão de nominar: Therezinha, Dennison, José, Thalita, karolyne, Jacicleide, Adriano, Maria, João, David, Claudimar.. – Jazem mortos e enterrados. Quem agora presta atenção neles, senão para vender notícia? Datas, nomes, fotos… – De quem eu nunca conhecerei. Continuo lendo: Dona Terezinha morreu em João Pessoa, de causas naturais; Dennison morreu, aos 33 anos, vítima de homicídio; José, 43 anos, afogou-se em um açude do Cariri paraibano; Thalita dormia, quando morreu carbonizada, após um incêndio em sua casa, no bairro da Glória, em Campina Grande, aos 30 anos. Karolyne, 22 anos, grávida de três meses, foi assassinada à tiros pelo ex-namorado, em Patos. Também vítima de feminicidio, Jacicleide foi morta à pedradas, em Campina Grande, após briga de casal. Adriano caiu de uma altura de quase dez metros quando trabalhava em uma fábrica de laticínios, no Conde; estava com 38 anos de idade. Maria, 60 anos, era paraibana e foi encontrada soterrada nos escombros de um prédio que desabou, em Olinda -PE. João, diagnosticado com transtornos mentais, tinha 18 anos quando foi assassinado, numa banca de frutas do município de Alhandra. David, 70 anos, era fotografo, e morreu por complicações decorrentes de um AVC, na capital paraibana. Já Claudimar, era natural de João Dias, no RN; envolvido com drogas, acabou assassinado no bairro Tancredo Neves, em Catolé do Rocha. Mesmo assim, ainda não os conheço. Ao expor essas historietas, carregarei a culpa de relatar apenas a causa Mortis, que é estatística. Não fui honesto com aqueles pais, filhos, avós, tios, mães, amigos… – Que agora desbotam pelo linotipo das páginas, já quase deslembrados. Poderia ter contado quem foram e não porque se foram. Mas, também, não adianta mais. Por ora, revividos, morrerão outra vez, em seguida, ao dobrar este periódico… – Até que todos eles estejam esquecidos.

Misael Nóbrega de Sousa – escritor e jornalista